Pequenos, mas gigantes...

                                                     Dia 1 – 1 dias A.I.
Acordo seis horas da manhã como de costume, desligo o despertador barulhento, “como odeio esse TRECO” penso, levanto da cama de forma estúpida que caio no chão.
— Merda de ansiedade matinal — Resmungo me levantando. Sim, eu falo palavras sem ter sentido de manhã, pra falar a verdade, o dia todo. Sou estranho e acho estranho quem não se acha estranho.
Caminho até o calendário preso na parede, pego a caneta presa ao mesmo e marco um “X” no primeiro dia de fevereiro, que é o dia em que estou. Gosto de contar os dias, mesmo sem objetivo, sem uma meta. Porém hoje é o meu primeiro dia do último ano do ensino médio, por isso minha ANSIEDADE MATINAL.
Pego meu celular em cima da cabeceira ao lado da cama e verifico as horas, percebo que estou atrasado uma hora. É por isso que odeio meu despertador, ou como disse antes, esse meu TRECO.
Saio pela porta do quarto xingando ALGUNS palavrões, pobre TRECO. Entro no banheiro rapidamente, me dispo e entro no chuveiro. Que desgraça, a água do chuveiro está gelada, “pelo menos vou ser mais ligeiro no banho” reflito, sempre tento ver o lado positivo das situações, uma maneira de se acalmar que aprendi quando criança.
Desligo o chuveiro, me seco com a toalha do Bob Esponja que está toda encardida e sem cor, está mais pra figura do demônio do que do Bob. Tenho vergonha de dizer isso com quase dezessete anos. Culpa da minha mãe que leu num site que toalhas com o material da minha dura dez anos.
— Maldito seja o criador da internet. — Murmuro colocando a roupa do dia no corpo, que minha mãe arrumou e deixou no banheiro pra mim. Minha mãe, sempre cheia de manias.
Depois de vestir a roupa toda, olho para o espelho enquanto pego a escola na gaveta. Arrumo o cabelo e começo a falar com o EU DO ESPELHO.
— Você é tão sexy Will Adams, as garotas te amam, I’m sexy and I know it... — Canto segurando a escova como microfone e tiro a conclusão que sou mesmo escroto.
Saio do banheiro correndo e desço as escadas que dão para o primeiro andar. Passo pela sala e vejo meu pai e minha mãe na sala, sentados no sofá, se assim posso chamar. Estranho logo de cara, normalmente meu pai já está trabalhando e minha mãe sempre na cozinha. Pela feição deles, algo havia acontecido.
— O que aconteceu? — Pergunto assustado e eles tomam um susto enorme, acho que estavam concentrados na TV e não perceberam minha presença.
— Filho, arrume suas malas Estados Unidos está em guerra e vamos sair daqui o mais rápido possível! — Desembucha meu pai e eu fico pálido com a notícia.
— Mas, como assim? Com quem? Por quê? — Disparo perguntas enquanto sento na poltrona. Estou trêmulo e branco demais, meus amigos provavelmente estão na escola, será que eles sabem?
— Acalme-se filho. Seu pai esqueceu os remédios. E está falando bobagens. — Tranquiliza minha mãe. Meu pai tem uma doença que afeta seu cérebro e ele delira muito. No momento a doença é controlada por remédios. Não sabemos o que acontece com ele, acredito que não seja uma doença. Às vezes, parece que ele sabe o que vai acontecer, não sei como. — A única coisa que aconteceu foi um atentado no cinema aqui em Flórida, um homem pensou que era o Coringa e começou a atirar nas pessoas. — E eu aqui reclamando do meu pai.
     Viro-me em direção à cozinha e caminho até esta. Minha mãe vem logo atrás de mim.
     — Fiz suco de beterraba com brócolis e uma omelete. — Detesto a comida da minha mãe, parece que sou um cavalo ou algo do gênero, acho que cavalos comem melhor do que eu.
     Comi tudo em 5 minutos, pego minha mochila e parto de moto a caminho da escola. Eu tenho uma Kawasaki, ganhei ano passado. Chego muito atrasado e perco o primeiro tempo. Para minha surpresa, eu não sou o único, porque olho para a árvore do SABER, que é a maior árvore da escola, e vejo Amy Taylor encostada nesta.    Ela é simplesmente minha vizinha, melhor amiga e a garota que eu estou afim dos últimos dez anos. É uma merda estar na FRIENDZONE, mas tenho esperanças. Aproximo-me dela calmamente até que ela percebe minha presença.
     — Pensei que você não viria. — Comenta Amy enquanto se levanta e me abraça. Quando ela me abraça é como um HAKUNA MATATA, eu esqueço meus problemas e só existe eu e ela, mas o que eu queria de verdade era que ela sentisse o mesmo.
     — Me atrasei por causa do TRECO. — Explico, ela é muito íntima e sabe tudo da minha vida, inclusive sobre o TRECO. — Estava fazendo o que? — Pergunto enquanto sento e me encosto-me à árvore forçando-a a fazer o mesmo.
     — Lendo, claro. — Responde Amy, era óbvio que ela estava lendo, livros faziam parte do corpo de Amy. Como sou babaca. — Aliás, tenho que te contar uma coisa. — Completa, a feição dela não estava nada boa.
     — Pode falar Ursa polar. — Suplico. URSA POLAR é um apelido que dei a ela desde criança. Os motivos são: ela é muito branca, quase uma água viva, e Amy dorme muito, por isso o apelido.
     — É o Jack, eu o vi beijando a Jennie na festa dela. — Desabafa. Meu Deus, Jack é o namorado dela, ou pelo menos era. Não sei como um garoto daquele não valoriza uma garota tão bonita como a Amy: de cor clara, com olhos azuis e cabelos lisos e ruivos. Não sei o que mais me fascina nela.
     — Amy... Ele é um babaca, você é tão bonita, ele não dá valor. Não se preocupe você vai encontrar alguém... — Digo e ela me interrompe.
     — Não vem com essa história de príncipe encantado. — Quando ela fica rabugenta...
     — Mas, você já falou com ele depois disso? — Pergunto sem querer me aproveitar muito da situação, não seria certo fazer algo para o meu aproveito.
     — Não, vou falar com ele hoje. — Diz ela. Talvez minha chance estivesse chegando.
     — Saiba que sempre estarei ao seu lado e nunca te abandonarei, conte comigo. — Falo olhando bem no fundo dos olhos azuis dela. Um lugar onde morava alegria e felicidade, agora só vejo tristeza e desolação.
     — Obrigada. Tenho saudades de quando éramos crianças, tudo era tão perfeito, pelo menos para nós. Andávamos de bicicleta, e fazíamos varias coisas, mas a que eu mais gostava era ficar no telhado de noite vendo as estrelas. — Relembra Amy, eu também adorava fazer essas coisas. Ainda gosto e vou às vezes ao telhado, mesmo sozinho.
     — Por que a gente parou? — Pergunto, tentando me lembrar.
     — Acho que eu fui ficando mais distante de você, mesmo sendo sua vizinha. — Comenta Amy.
     — É mesmo, mas eu nunca me esqueci de você, das suas manias, depois que nos distanciamos minha vida foi ficando sem sentido. — Concluo e me abro para ela, eu nunca parei de amá-la.
     — Eu gostava quando você me abraçava no telhado, passando a mão pelas minhas costas e repousando-a no meu ombro. Eu me sentia confortada, protegida, entende? — Ela diz e percebo que isso foi um sinal para eu fazer o gesto. Então faço exatamente o que Amy disse. Ela me olha e eu também, e com nossos olhares trocamos certa felicidade por uma conexão que temos desde pequenos.
     — Você está sentido isso? — Pergunto a ela que segura minha mão que não está no ombro dela.
     — Sempre senti esta ligação. É incrível. — Ela responde direcionando seu olhar para minha boca. Amy chega cada vez mais perto, fico arrepiado, ansioso e com as mãos suando. Largo a mão dela delicadamente e seguro o rosto tirando seus cabelos ruivos que escondem uma parte de sua face. Amy ainda olha meus lábios e eu os dela, acariciando levemente seu rosto com a mão. Nossas faces estão a poucos centímetros e meu corpo treme muito, ela finalmente fecha os olhos e eu faço o mesmo. Quando estamos quase encostando os lábios ouço uma voz e o sinal bate.

     — Amy! — Grita alguma garota. “Maldito PAI DO TRECO” Xingo o sinal.     

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